terça-feira

CAPÍTULO XII

"É Preciso Ver os Anjos"

- Dona Ingrid, porque estou recebendo tão pouca costura? A senhora não gosta mais do meu trabalho? – perguntou-lhe certa costureira.
- Não se trata disso. Todos estão recebendo a mesma quantidade... Estamos atravessando uma crise, mais vai passar, eu sei que vai...

Ingrid não havia contado à cidade que fora cortada de São Martinho. Vinha tentando equilibrar o orçamento que estava abalado por conta da redução de trabalho. Logo agora que tinha gastado todas as economias com as instalações do posto de saúde. Ainda costurava para outras cidadezinhas menores, mas São Martinho, sem dúvida nenhuma, representava o que ela poderia chamar de espinha dorsal dos negócios. Era lá que conseguia encomendas de roupas mais finas, luxuosas, e consequentemente, bem pagas. Atormentava-se tentando resolver aquele empasse e não via a saída. Havia contado à Agnes só parte da verdade; não contara sobre o Frei e não podia fazê-lo agora. Omitir parte da verdade deixou Agnes intrigada, pois os fatos não se encaixavam:

- Não faz sentido, Ingrid – disse Agnes certa ocasião – Você deve estar enganada. Os lojistas não iriam cortá-la só porque teve uma divergência com o prefeito... Gostavam tanto do seu trabalho.
- Não foi só uma divergência – disse Ingrid – Eu o insultei com aquela história da posse das terras... Além do mais, ele tem domínio sobre todos ali.
- Pois eu ainda acho muito estranho – insistiu Agnes – Deve haver algo mais por traz de tudo isso.
- Não há nada de estranho – afirmou Ingrid – Ele avaliou que se o negócio da costura tomasse vulto, a cidade prosperaria rapidamente. Nesse caso, pensou numa maneira de tirar alguma vantagem nisso.
- Que tipo de vantagem?
- Talvez cobrando os impostos atrasados, não sei, não entendo muito bem disso. O que ele não previu que eu poderia ser mais esperta do que ele e quis vingar-se. E conseguiu.
- Talvez suas intenções não fosse essas. Não te ocorreu que ele, como prefeito, poderia ajudar...
- Não seja boba, Agnes! Há muito que eu aprendi a ler nas entrelinhas. Não sou mais aquela caipira inocente. Sei bem quando uma raposa pretende atacar o meu galinheiro só pelo olhar!
- Mas ele nos enviou Leopoldo – lembrou Agnes.
- É exatamente isso que não ficou claro – disse Ingrid – Mas não importa, estou feliz que ele esteja aqui e o posto está funcionando maravilhosamente bem.
- Porque não pergunta á Leopoldo? Talvez ele saiba de alguma coisa, afinal ele é de lá da cidade – sugeriu Agnes.
- Já andei sondando-o, mas ele fugiu do assunto. Talvez não queira se envolver. Nem mesmo sobre sua família sabemos ao certo.
- É verdade – disse Agnes – Por qual razão não fala de sua família?
- Talvez tenham problemas – disse Ingrid – Não vou perguntar, não quero ser indiscreta.

Pouco mais de um mês depois, Sara surpreendeu Ingrid com uma notícia. Disse-lhe que um estranho visitara Leopoldo no posto naquela manhã.

- Tem certeza? – perguntou Ingrid
- Tenho. Irmã madalena, a enfermeira, me disse ainda pouco quando passei por lá.
- E o que mais ela disse?
- Que o homem era de São Martinho. Ficou trancado com o Leopoldo um tempão e depois foi embora com cara de poucos amigos.
- Tomara que não seja o que eu estou pensando – disse Ingrid apreensiva.
- E o que está pensando?
- Depois eu te conto. Agora tenho que sair.
- Aonde você vai?
- Vou desvendar esse mistério.

Ingrid acomodou-se num banco na sala de espera. A porta do consultório estava fechada e ela concluiu que Leopoldo estava em consulta. Enquanto aguardava, examinava atentamente as pinturas de Sara decorando as paredes do posto. Logo na entrada, havia um quadro de uma figura de mulher com um bebê nos braços, semelhante a uma Madona. Eram desprovidos de traços faciais, e o céu azul pintado ao fundo, parecia fazê-los flutuar. Nas outras paredes, outros com temas florais: Hortênsias, margaridas e rosas. As pinceladas eram marcantes e tinham personalidade. E o que dizer das cores? Ora suaves, ora vibrantes e profundas, causavam um impacto visual empolgante ao observador. Pareciam atrair os olhos de forma magnética e involuntária. Conferiam certo charme e elegância ao ambiente mobiliado com simplicidade. Todas as pinturas estavam assinadas no canto inferior direito “Sara Vankovsk”, seguida da data. Não havia dúvidas que ela possuía um talento nato. “Deve investir no aprendizado dela... Iniciá-la numa escola de artes...” As palavras da diretora lhe tomaram de assombro. Há quanto tempo foi isso? Quatro anos?... Pareciam quatro séculos.

A porta abriu e Leopoldo surgiu na companhia de um homem idoso.

- Tome os remédios conforme expliquei e volte na próxima semana para eu examiná-lo. Mas pode procurar-me antes, a qualquer hora do dia ou da noite se não se sentir bem.

O velho deixou o posto carregando a embalagem com os medicamentos. Havia confiança nos pequenos olhos murchos pelos sinais do tempo.

- Tem tanta paciência com eles – disse Ingrid – Você nasceu para ser médico.
- Gosto deles – afirmou Leopoldo – Confiam em mim e eu tento retribuir, é só isso.
- Não, não é só isso. É um excelente profissional e sabe disso – disse ela.
- Quando vim para cá, não imaginei que pudesse ser tão gratificante. Agora não me vejo clinicando em outro lugar.


Ele estava triste, ela podia jurar que estava. Tinha que entrar no assunto sem parecer intrometida:

- Leopoldo... Não quero que me tome por alcoviteira, porque sabe que eu não sou, mas soube ainda pouco que recebeu uma visita de São Martinho e eu estou preocupada...
- Então você já soube.
- Pode me falar a respeito?
- Eu não vou embora de Redentor, se é isso que quer saber – afirmou ele.
- Então eu estava certa, era mesmo um mensageiro do prefeito que veio visitá-lo hoje pela manhã?
- Era.
- Eu sabia! – exclamou furiosa – Será que aquele homem pavoroso não vai nos deixar em paz! Já não basta o que fez comigo?
- E o que ele fez com você? – quis saber ele.
- Deixa para lá... É uma história muito longa...
- Não, não deixo não! Eu quero saber! – protestou enfaticamente e depois caiu em si – Quero dizer, se alguém está prejudicando você, me sinto na obrigação de protegê-la...
- Foi o prefeito quem proibiu os lojistas de comprarem minhas confecções.
- Como ele teve coragem? – indagou com voz baixa – E é por isso que me fez tantas perguntas sobre ele?
- Sim. Achei que pudesse descobrir algo novo que pudesse me ajudar a reverter esta situação. As encomendadas de lá eram as mais numerosas e lucrativas.
- E o que pretende fazer agora?
- Eu me arranjo – disse ela com voz cansada – Agora quero saber de você: pode recusar-se a deixar o posto?
- Tanto posso, que recusei. Fiquei por que escolhi ficar. Agora estou por minha conta; não tenho mais nenhum vínculo com a prefeitura.
- Não imagina como estou feliz em ouvir isso – afirmou ela – Mas estou preocupada também... Como irá sustentar-se?
- Eu me arranjo – repetiu ele as palavras dela e sorriram um para o outro.

Ela lamentou profundamente estar com o caixa tão baixo nesse momento; pagaria um salário a ele só para não vê-lo ir embora. Evidentemente que o essencial não lhe faltaria, mas ela, como ninguém, entendia o quanto era importante para uma pessoa arcar com o próprio sustento. Ela e Sara fora sustentada por Agnes por um longo tempo e podia avaliar o que Leopoldo estava sentindo. Soube o que aconteceria em breve: ele não aguentaria por muito tempo e acabaria arrumando um emprego na Capital, afinal viajava para lá sempre para buscar materiais e medicamentos e possuía muitos amigos...

Repentinamente seu rosto iluminou-se. Era tão obvio que ela quase gargalhou.

- Achei! – bradou ela – Achei o caminho!
- Caminho?...
- Sim... você pode vender minha confecção na Capital! – declarou empolgada.
- Como faria isso? – perguntou ele – Não posso me ausentar do posto por muitos dias...
- Ficaria um ou dois dias a mais do que o habitual. Afinal, os doentes estão sob controle.
- Não acha muito arriscado? E os acidentes? Não podemos prevê-los – argumentou ele.
- Ora, Leopoldo, este lugar sempre sobreviveu sem um médico, e depois eu me comprometo a socorrê-los se isso acontecer.
- Acredita mesmo que eu conseguiria?
- Claro que sim!... Prepararei um mostruário bem caprichado e você visitará as lojas. Pagarei-lhe uma porcentagem pelas encomendas que conseguir.
- E as entregas? A Capital fica tão longe daqui...
- Contrataremos os serviços de uma transportadora – sugeriu ela – Só terei que levar as mercadorias até lá.
- Pode ser uma excelente idéia – animava-se ele – Conheço uma transportadora em Vila Mansa; eles transportam algodão para as tecelagens na Capital. É bem provável que consigamos contratá-los.
- Então está decidido! – exclamou ela – Acabamos de matar dois coelhos de uma só vez. Resolvemos o seu problema, e o meu também, naturalmente.

Com essas palavras, ela se despediu de Leopoldo e se dirigiu à saída. Sentia-se bem, leve. A esperança brotava-lhe num renovo forte. Em cada labirinto, havia uma única saída e ela sempre a encontraria.

Antes de cruzar a porta ela voltou-se para ele:

- Você janta comigo essa noite para comemorarmos – e depois acrescentou com o dedo em riste – E isso é uma ordem!

Depois que ela saiu, Leopoldo se fechou no consultório. Tinha muita coisa por fazer, mas não conseguia se concentrar no trabalho. Sentia-se um traidor por não ter contado a ela toda a verdade. Relembrou a conversa que tivera com Tonico, o capataz de seu pai pela manhã:

- Vim buscar o menino Leopoldo a mando do “Coroné” seu pai – dissera Tonico – Ele tem urgência em falar com o “sinhozinho.”
- Diga a meu pai que me recusei a ir com você – respondera ele firmemente.
- O menino me “adiscurpe”, com todo respeito que lhe tenho, mas não vou sair daqui sem o menino. Tenho ordens do...
- Ordens de quem? – interrompeu Leopoldo – Do meu pai, ou do prefeito?... Ou será que é do Coronel? Qual das mil caras ele está usando agora para me pressionar?... Será que vai mandar me prender se não atender o seu chamado?... Não, talvez mande me matar...

Tonico olhara-o aturdido. Conhecia Leopoldo desde que nascera e nunca o tinha ouvido falar daquela maneira.

- Desculpe-me Tonico – disse Leopoldo constrangido – Não posso despejar toda minha revolta em cima de você. Afinal, só recebe ordens.
- O Coroné manda, e eu faço – simplificou o homem – disse pra não voltar sem o menino e não sei como vou chegar lá sozinho. Nunca deixei de cumprir uma ordem em toda a minha vida.
- E cumpriu dessa vez também vindo até aqui. – garantiu Leopoldo – Eu é que não me sinto mais sob as ordens do Coronel... E quero que você diga isso a ele. Diga que não sou um de seus bois, ou dos seus cavalos, que ele assobia e todos correm prontamente a atendê-lo. E se depois disso, ainda quiser falar comigo, que venha até aqui!

Leopoldo mal podera acreditar que dissera aquilo. Ouvira o som das próprias palavras e pareciam-lhes que estavam sendo ditas por outra pessoa. Nunca se julgara capaz de se libertar do pai. Estava triste, porém, aliviado.

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Ele viajou naquela mesma semana para a Capital. Levava uma mala com várias peças de um mostruário cuidadosamente arrumado. Providenciou logo a compra dos produtos para o posto, depois saiu em visita às lojas do centro da cidade. Estava surpreso com sua própria desenvoltura; demonstrava as peças, descrevia os modelos e os tecidos. Tecia opiniões sobre uma ou outra peça. Os lojistas gostavam, elogiavam, outros, nem tanto. Ele anotava tudo, discutiam prazos e pagamentos, e acabavam chegando a um acordo.
Na volta, Leopoldo trouxe mais encomendas do que se julgava capaz de conseguir. Ao saltar do ônibus, naquela tarde de sexta-feira, foi direto à casa de Ingrid. Ansiava contar-lhes as novidades.

- Então você conseguiu mesmo! – comemorou, ela.
- O próximo passo, agora é fechar contrato com a transportadora – disse ele.
- O que pensa que estive fazendo enquanto viajava? – perguntou com uma piscadela.
- Como sabia que eu traria encomendas?
- Intuição feminina... Às vezes funciona!

Aos poucos, tudo voltava ao normal. O trabalho era farto e os sonhos também. Ainda faltavam tantas coisas a serem realizadas em Redentor. Bastava dizer, que a cidade não possuía, se quer, um cemitério para enterrar os seus mortos. Todos eram enterrados em outras cidades. Ingrid acalentava ainda outro desejo; pretendia construir um belo parque arborizado, com balanços para as crianças brincarem. Esse, ela não compartilhava nem mesmo com Agnes, pois sabia se tratar de uma idéia um tanto extravagante para uma cidade que não tinha nem saneamento básico. Os detritos de esgoto escorriam por valas a céu aberto.

- Nesse ritmo, terei que viver cem anos para realizar tudo que pretendo! – costumava dizer a Leopoldo.

Às vezes ela parecia querer segurar o tempo com as mãos, tamanho era sua vontade de realização, mas não adiantava. Os meses voavam e já estavam em outubro. Tinha que começar a se preocupar com o final do ano; as encomendas dobravam e tinha que estar preparada. Leopoldo mostrava-se ainda mais preocupado e procurou por Ingrid certa manhã:

- Receio que não consigamos dar conta – disse-lhe ele – Tenho me ausentado mais do que poderia de Redentor... Tivemos sorte até aqui, mas não sabemos até quando.
- Ando preocupada com isso também – confessou ela – Já imaginou se alguém fica gravemente doente na sua ausência?... Nem é bom pensar. Antes de qualquer coisa, você é o médico daqui.
- Teremos de recusar as encomendas que não pudermos cumprir o prazo – concluiu ele.
- Não, essa é uma conclusão precipitada – retrucou ela – Estamos num impasse, mas vamos buscar juntos a solução!
- Não vejo saída...
- Mas eu sim. Vou arranjar alguém para revezar com você.
- Existe essa pessoa aqui em Redentor?
- Pode ser que sim. Conheço um rapaz... Você também deve conhecê-lo, o nome dele é Dionisio.
- O filho do Joaquim?
- Ele mesmo. Deve estar com uns dezoito anos agora e se você for paciente, poderá ensiná-lo tudo que sabe.
- Não sei, não... O pai dele é uma pessoa difícil.
- Eu sei disso, tive alguns problemas com ele no passado. Ele ainda é o único homem com idade produtiva na cidade que não trabalha na costura.
- E nem em coisa alguma.

Ingrid levantou-se e começou a caminhar pelo salão, pensativa.

- O que foi? – perguntou Leopoldo.
- Sabe que acaba de me dar uma grande idéia?
- Que idéia?
- Tenho que amadurecê-la, depois falamos nisso – decidiu – Vou hoje mesmo falar com os pais de Dionisio. Vai gostar de trabalhar com ele, ele é educado, inteligente, ativo... Nem parece que foi criado aqui!
- Acha que consegue a permissão do Joaquim?
- Eu tenho uma carta escondida na manga... e vou usá-la à nosso favor.

Ingrid saiu mais cedo de casa para a aula noturna e bateu à porta da casa de Joaquim. Dona Iracema, a mulher, veio atendê-la e pediu que ela entrasse. Desde as divergências com Joaquim, nunca mais estivera ali; Dona Iracema retirava e entregava as costuras no salão para evitar confusão com o marido e ela era uma de suas melhores costureiras.

Ingrid ficou impressionada com a limpeza e organização da casa; bem diferente da primeira vez.
Ela aceitou o convite para sentar-se e pediu à mulher que chamasse o marido. Dona Iracema estranhou a princípio, mas Ingrid tranqüilizou-a:

- Não aconteceu nada, eu só quero conversar um pouco com ele – informou.

Dona Iracema saiu para o quintal e logo voltou na companhia do marido. Ele cumprimentou-a com certa gentileza, pois não era pessoa de desfazer de ninguém em sua própria casa, mas mantinha um ar desconfiado. Ingrid preferiu ir direto ao assunto e perguntou sem rodeios:

- Gostaria de trabalhar conosco Seu Joaquim?
- Não gosto de costura, não senhora – declarou decididamente.
- Não é na costura.
- Não...
- Sabe guiar, não sabe?
- Sei, sim senhora.
- Pretendo comparar uma ambulância e vou precisar de um motorista para transportar os pacientes que não podem receber tratamento aqui, ou para pequenas cirurgias. Levar e buscar exames de laboratórios, e outras coisas mais... Gostaria muito que o senhor aceitasse a minha oferta. Vou lhe dar alguns dias para pensar...
- Não tenho nada que pensar, não senhora – retrucou repentinamente – Se é trabalho de homem, eu aceito com muito gosto.
- Esplêndido!... Acabamos de fechar um grande negócio! – exclamou ela – E pensando bem, acho que posso providenciar um emprego para Dionisio, também – acrescentou.
- Também é trabalho de homem?
- Eu lhe garanto que sim.
- Nesse caso, ele também aceita.
- Peça a ele que vá falar comigo o mais rápido possível.

Dionisio ficou radiante com a possibilidade de viajar para a capital. Nascera em Redentor e fora os anos que passou em São Martinho para estudar, nunca havia saído da cidade. Ficou acertado que acompanharia Leopoldo nas primeiras vezes, depois viajaria sozinho revezando-se entre si. Ingrid comprou a ambulância, usada, porém, em perfeito estado, e quando chegava a vez de Leopoldo ausentar-se, fazia-o com mais tranqüilidade. Joaquim mostrou-se dedicado no trabalho, mas continuava a ser um homem sisudo, de poucas palavras e não sorria nunca. Não demostrava, mas ficava evidente que nutria por Dionisio, seu único filho, um amor intenso: Ingrid admirava-o por isso.

Com tudo nos eixos, eles chegaram ao final do ano e conseguiram entregar tudo no prazo. Ingrid comunicou Leopoldo que tirariam férias e só retornariam em fins de janeiro.

- Férias bem merecidas! – disse ele.
- Nem fale!... Agora só quero pensar nas festas de fim de ano e o aniversário de Sara... Quatorze anos! Nem acredito...
- Onde está ela?
- Está com Agnes no convento. Não quer almoçar comigo?
- Não posso, tenho um paciente daqui a pouco.
- Nesse caso, vou lhe preparar um lanche.
- Nem mesmo minha mãe cuidaria tão bem de mim – disse ele e depois ficou embaraçado – Desculpe-me... Não quis dizer que tem idade para ser minha mãe...
- Não se desculpe. É exatamente assim que me sinto, com mais idade que realmente tenho.
- Mas não devia, é tão jovem ainda, e tão bonita... Tem dias que me pego pensando como alguém como você pode estar aqui nesse fim de mundo... E depois me pergunto o que seria desse fim de mundo se alguém como você não estivesse aqui... Não é engraçado?
- Tudo que é trágico tem seu lado engraçado. Já pensou nisso? – perguntou ela.
- E o que é trágico?... Você estar aqui, ou você não estar aqui? – perguntou ele fazendo gestos cômicos.
- Isso está parecendo conversa de doido.
- Mas somos doidos, não somos?
- Somos os doidos mais equilibrados do mundo!

Leopoldo pensava em como o destino pode tomar rumos inesperados na vida de uma pessoa, enquanto voltava para o posto. O pai o obrigara a esse rumo, e se não fosse por isso, não estaria vivendo agora, os melhores momentos da sua vida ao lado daquela mulher que lhe parecia saída de um romance em quadrinhos. Possivelmente, nem a teria conhecido. Não restavam mais dúvidas em seu coração, apaixonara-se por ela desde o início, mas só agora o admitia. Negar esse sentimento era uma forma de se proteger contra a dor do desengano; Ingrid representava tudo que ele mesmo não era e desejava ser. Ela era mais velha, mais alta, mais bela, mais inteligente e mais corajosa do que ele. Não cultivava falsas ilusões de que um dia iria possuí-la. Mesmo que ela conseguisse olhar através do seu físico, ainda assim haveria o agravante de ser filho de quem era. E isso não tinha como mudar. Contudo, não estava sofrendo. Ele já a possuía à sua maneira. Eram amigos de verdade, estavam unidos pela cumplicidade de partilhar dos mesmos ideais. E isso era mais do que podia esperar que a vida lhe desse.

Naquela noite, Ingrid sentia-se suave. Lembrou da conversa que tivera com Leopoldo durante o dia e deixou escapar um sorriso. Pensou em como viera a gostar tanto dele. Sempre desejou ter um irmão mais moço e com ele provava um pouco dessa experiência. Sabia que alguns homens da cidade comentavam maliciosamente sobre a amizade deles, o que não a surpreendia nem um pouco; estava habituada a ser alvo de falatórios. Eles a julgariam sempre e por quaisquer dos seus atos; os homens não perdoam uma mulher sozinha, não importa quão bem intencionada ela seja.

Ela se preparava para deitar-se e como de costume, passou pelo quarto de Sara para beijá-la em sua cama. Quando encostou os lábios em sua bochecha, sentiu-a mais quente do que o normal. Instintivamente levou o dorso da mão no pescoço da menina.

- Está ardendo em febre! – exclamou em voz alta.

Por vários minutos, Ingrid tentou despertá-la. Chamava-a, dava-lhe tapinhas no rosto, sacudi-a e nada. Sara estava mergulhada num sono profundo. Ingrid não teve dúvidas, tinha que agir rápido. Apanhou a chave do furgão, correu até ele, ligou o motor e manteve a porta aberta. Voltou para o quarto, apanhou um cobertor e envolveu a filha. Explorou até a última gota de suas forças para carregá-la em seus braços, colocá-la no veiculo e correr para o posto de saúde.

- Leopoldo! Leopoldo! – gritava afoita enquanto batia violentamente com os punhos na porta.
- Ingrid?!... O que aconteceu? – perguntou ele ainda sonolento ao abrir a porta.
- Venha ajudar-me depressa! – pediu ela em desespero – Sara está no furgão ardendo em febre. Acho que desmaiou.

Eles carregaram a menina para o interior do posto e acomodaram-na em uma maca no consultório de Leopoldo. Ingrid estava agitada andando de um lado a outro, enquanto ele aplicava uma injeção em Sara para abaixar a febre.

- Não é melhor você esperar lá fora? – Sugeriu Leopoldo vendo-a consumir-se em nervosismo.
- De jeito nenhum! – protestou – Não ouse a expulsar-me daqui!
- Então tente se acalmar e ajude-me a examiná-la – pediu ele.
- Porque ela desmaiou, Leopoldo?
- Foi por causa da febre muito alta. Mas logo vai abaixar com o medicamento – tranqüilizou-a.

Ingrid amparava o corpo da filha inclinado para um dos lados, enquanto Leopoldo examinava os seus pulmões. Estava visivelmente intrigado.

- O que está havendo? – perguntou apreensiva.
- Ocorreu alguma coisa incomum com ela hoje? – perguntou ele.
- Não que eu saiba. Passou o dia todo com Agnes, parecia bem quando voltou para casa... Mas porque está me perguntando isso?
- Nada demais. Por enquanto é só um palpite. – disse ele com voz tranqüila.
- Não me esconda nada, por favor! – suplicou-lhe.
- Evidente que não, Ingrid!... A febre está abaixando, logo ela vai acordar e então poderei perguntar o que está sentindo. Vou buscar um café para nós enquanto aguardamos.
- Obrigada.

Leopoldo saiu e logo voltou com duas xícaras de café. Bebiam ao lado da cama quando Sara mexeu com a cabeça.

- Olha Leopoldo, ela está acordando.

Ele depositou rapidamente a xícara em cima da mesa e voltou para perto da menina. Sara abriu os olhos e olhou a sua volta confusa.

- Como está se sentindo? – perguntou ele.
- Mamãe... Leopoldo... Com vim parar aqui?
- Estava febril e eu a trouxe para Leopoldo examiná-la – disse-lhe a mãe.
- Como conseguiu isso sem que eu me lembre de nada?

Ingrid lançou um olhar para Leopoldo; não queria assustá-la com uma resposta incorreta. Ele entendeu prontamente o sinal:

- Você teve um mal estar passageiro. Agora está tudo bem. – afirmou Leopoldo – Quero lhe fazer algumas perguntas... Está pronta?
- Estou.
- Está sentindo alguma dor agora?
- Não.
- Sentiu alguma coisa diferente hoje?
- Só a comida do convento que não me caiu muito bem.
- Por que acha isso?
- Senti uma dorzinha aqui – informou a menina colocando a mão no baixo ventre.
- Tudo bem. – disse ele – Eu vou examiná-la.

Leopoldo tocou num ponto e ao mesmo tempo, flexionou uma das pernas: ela soltou um gemido de dor. Ele preparou outra injeção e aplicou nela. Sara reclamou um pouquinho, mas logo depois voltou a dormir. Ele chamou Ingrid para fora do consultório.

- E então, já sabe o que ela tem? – perguntou Ingrid ansiosa.
- Apendicite.
- Tem certeza?
- Não afirmaria se não tivesse certeza.
- É claro! Desculpe-me, não duvido de sua competência, mas me parece tão improvável... Ainda pouco ela estava tão bem...
- É mais um indício para eu chegar a esse diagnóstico. Além de outros sintomas, naturalmente.
- E o que vai acontecer agora?
- Temos de aguardar um pouco e torcer para a febre não voltar – disse ele – Se não voltar, é sinal de que ainda não atingiu a fase aguda... Pelo menos, por enquanto. Nesse caso, poderemos transportá-la para o hospital com segurança...
- Hospital?? – perguntou transtornada.
- É cirúrgico, Ingrid... Não há outro tratamento.
- Mas o hospital mais próximo é o de São Martinho à oitenta quilômetros daqui!... Oh, Céus! O que estou falando, é claro que você sabe disso!
- É justamente por isso que temos de ter certeza que ela estará bem para suportar com tranqüilidade a viagem. Se a febre não voltar com os medicamentos, poderemos transportá-la sem correr nenhum risco – concluiu ele.
- E se voltar?
- Aí a situação se complica. Não haverá tempo suficiente para chegarmos ao hospital...

Odiou dizer isso, mas não mentiria para ela. Não nesse caso. Angustiava-o vê-la aflita daquela maneira, mas tinha que manter-se forte para ampará-la:

- ...Olha Ingrid, não vamos pensar no pior. A febre não voltará e vai dar tudo certo...

Ela estava sentada, o rosto entre as mãos, agia como se não o ouvisse. Talvez esteja fazendo uma prece – pensou Leopoldo. Sara chamou pela mãe. Os dois correram para o interior do consultório. Leopoldo examinou-a brevemente, e lançou para Ingrid um olhar de pesar:

- A febre voltou.

Ambos deixaram o consultório. Ingrid ficou calada por alguns momentos e depois anunciou sua decisão:

- Vamos levá-la para hospital imediatamente!
- Não podemos Ingrid, é muito arriscado! – enfatizou, ele.
- O que nos resta fazer? – perguntou desesperada.
- Não sei... Não sei... Preciso pensar...
- Se ela não aguenta chegar ao hospital, então não há o que pensar – disse ela – Você vai operá-la!
- Eu?? Você ficou louca? Não posso fazer isso! – protestou veementemente.
- Por que não? – insistiu ela.
- Por que... por que não há instrumentação adequada... Além do mais as condições aqui são precárias e...
- Tem que fazer assim mesmo! – gritou.
- Não pode exigir isso de mim, Ingrid!... – Ele começava a transpirar por todos os poros – O estado dela é muito grave... Não posso assumir essa responsabilidade... Não sou cirurgião...
- Droga, você é um médico!! – berrou ela agarrando-o pela orla do seu jaleco, chacoalhando-o com violência – ... Não vai ficar aí parado assistindo minha filha morrer e não fazer nada!... Eu vou dizer exatamente o que você vai fazer – continuou debilmente – Vai entrar lá e salvar a vida de Sara, porque se não fizer, eu mesma farei!

Ingrid estava completamente fora de si. Leopoldo sentia-se em pavor, em meio a um pesadelo de horrores. Desejou avidamente não estar ali, não ter que tomar decisões pela qual nunca estivera preparado. Sabia que ela não desistiria. Estava encurralado.

Ingrid lutava contra si mesma para voltar à razão. O descontrole só pioraria as coisas. Ela aproximou-se lentamente de Leopoldo e segurou-o gentilmente pelos braços:

- Pelo amor de Deus, Leopoldo!... Sara é tudo que eu ainda tenho... Não posso perdê-la. Acho que não suportaria...
- Está bem – disse ele mecanicamente – Temos que agir rápido. Vou me vestir e preparar tudo por aqui enquanto você vai ao convento buscar a enfermeira.
- Anestesia! – exclamou ela de repente – Temos anestesia?
- Eu trouxe da Capital, por via das dúvidas... Nunca imaginei que fosse usá-la realmente.

Ingrid apanhou o furgão e saiu em disparada. Causaria um alvoroço no convento tocando a campainha aquela hora da madrugada, mas isso não era importante. Acordaria a cidade inteira se fosse preciso para salvar a vida de Sara.

Leopoldo já havia preparado tudo quando ela chegou com Agnes e irmã Madalena.

- É melhor vocês ficarem do lado de fora – recomendou Leopoldo para Ingrid e Agnes – Por favor, não me interrompam por nada. Sei o quanto estão nervosas, mas a única maneira de vocês colaborarem nesse momento, é se manterem calmas... Rezar pode ser de grande ajuda

Dizendo isso, ele afastou-se em direção a sala de curativos, para onde já havia transportado Sara.

- Leopoldo! – chamou Ingrid – Estarei torcendo por você... Vai conseguir!

Ele acenou com a cabeça e fechou a porta.

- Vamos Ingrid, vamos rezar – disse Agnes puxando-a pelo braço.

Na sala de espera os minutos se arrastavam como se os ponteiros do relógio fossem pesados demais para se moverem. Por três horas e quarenta e três minutos, Leopoldo permaneceu lá dentro com Sara e durante esse tempo, Ingrid retrocedeu em toda sua vida nos mínimos detalhes. Buscava razões para as coisas pelas quais estava passado, mas ainda não obtinha as respostas. Talvez ainda estivessem por vir.

Agnes rezava incessantemente. Pelo menos ela consegue rezar – pensava Ingrid quando a porta abriu e Leopoldo apareceu diante delas. Ingrid tentou numa fração de segundo, decifrar em seu rosto qual fora o resultado.

- Correu tudo bem – declarou ele. Estava banhado em suor.


Ingrid enxugava delicadamente a testa de Sara, a febre havia baixado totalmente e ela parecia derreter em transpiração. Agnes estava do outro lado da cama com o terço entre os dedos. Rezava em agradecimento.

- Agnes! – chamou Ingrid depois que ela fez o sinal da cruz e guardou o terço no bolso do hábito – Pegue o furgão e volte para o convento com irmã Madalena. Sara está bem agora.
- Não, eu vou ficar. Podem precisar de alguma coisa...
- Está tudo bem, pode ir – tranqüilizou Ingrid – Leopoldo e eu cuidaremos dela agora. Já fizeram o suficiente, vão para o convento descansarem.
- Está bem. – concordou ela – Mas voltarei amanhã para ficar com Sara enquanto você irá descansar... Promete-me?
- Prometo. Agradeça irmã Madalena por mim... E obrigada por tudo, minha irmã.
- Agradecemos a Deus que nos guiou a todos.


Depois que Agnes saiu com a enfermeira, Leopoldo tornou a examinar Sara: conferiu a temperatura, a pressão arterial e a pulsação.

- Ela está bem? – perguntou Ingrid
- Tudo sob controle – respondeu ele – O perigo já passou, mas só poderei fazer uma avaliação melhor quando acordar da anestesia.
- E demora?
- Uma ou duas horas eu diria. A cirurgia demorou mais do que o previsto e tive que ministrar uma segunda dose – informou ele – Vou fazer um café fresco para nós, você vem comigo?
- Não, obrigada. Não quero sair de perto dela.
- Ela não vai acordar agora, Ingrid, pode acreditar em mim – insistiu ele.
- É claro que eu acredito em você!... Não sou louca em não acreditar.

A pequena cozinha ficava nos fundos do prédio. Como mobília, apenas um fogão, uma pia, uma pequena mesa quadrada com algumas cadeiras, uma geladeira onde Leopoldo guardava, além dos alimentos, as vacinas que ele trazia da Capital para ministrar às crianças. Duas prateleiras sustentavam utensílios domésticos.

Ele preparou o café e colocou em duas xícaras em cima da mesa. Ingrid apanhou uma e posicionou-se junto à porta para olhar o quintal. Leopoldo, nas horas vagas, havia feito canteiros de gerânios e margaridas em toda extensão do terreno. Estavam na primavera e as flores desabrochavam frescas e vistosas. As madressilvas que ele plantara junto ao muro, escalavam-no imponentes para depois, lá do alto, exibirem cachos pendentes de minúsculas flores amarelas e perfumadas.

- Tenho vindo aqui tantas vezes e ainda não havia notado como está florido seu jardim – disse ela.
- Cuidar das plantas é uma ocupação que me dá muito prazer.
- Mais do que a medicina?
- Nunca pensei nisso, são coisas tão diferentes.
- O fato de cuidar delas com a mesma dedicação com que cuida de seus pacientes não as fazem coisas semelhantes?
- Quando uma planta morre, você arranca e coloca uma mesma espécie no lugar. Ninguém sente pesar por isso... Nem mesmo notam a diferença.
- Não se pode fazer isso com vidas humanas, não é mesmo?
- E aí está a diferença.

Ela se deu conta de repente, que ainda não havia agradecido Leopoldo por ter salvado a vida da filha. Talvez fosse por que palavras não seriam suficientes para descrever quão grata e aliviada ela estava. Pensava justamente nisso, quando Leopoldo avançou alguns passos e se colocou bem diante dela:

- Ingrid... Obrigado.
- Hei, espere ai!... Não está invertendo os papéis? Não sou eu quem tem que lhe agradecer?
- Não, não estou. Eu sou quem devo agradecer-lhe. E muito.
- Por quê?
- Por ter me pressionado a fazer... Por ter confiado em mim.
- Sempre confiei em você, sabe disso... E agora mais do que nunca! – afirmou ela – Não sei por que você está me dizendo essas coisas.

O café fora um pretexto para tirá-la da sala. Na verdade, ele pretendia contar-lhe tudo logo de uma vez. Admitia ter chegado o momento, não podia mais adiar. Só não sabia como fazê-lo. Ele engoliu várias vezes, torcia os dedos em gestos involuntários de nervosismo. Ingrid notou logo que algo o afligia:

- O que está havendo, Leopoldo? Parece nervoso...
- Ingrid... Tenho algo muito grave a revelar-lhe.
- O que poderá ser mais grave do que passamos ainda pouco?... Não pode haver nada mais grave...
- Vai mudar de idéia depois que eu lhe contar tudo.

Ela pendeu um pouco com a cabeça e franziu as sobrancelhas ao olhar atentamente para ele:

- Está me deixando nervosa... Tem alguma coisa a ver com Sara? Garantiu-me que ela estava bem...
- Não tem nada a ver com Sara, fique tranqüila.
- E tem a ver com quem, então?
- Com você, comigo, com essa cidade... e com o meu pai.
- Com seu Pai?!... Mas nem conheço seu pai...
- Conhece, sim, Ingrid. E conhece muito bem.
- Não, não conheço... O que exatamente está querendo me dizer?
- Meu pai é o Coronel João Leônidas de Palmas Ferreira, o atual prefeito de São Martinho.

A revelação caiu como uma bomba devastadora em cima de Ingrid. O ar ficou preso em seus pulmões por alguns segundos. Ela tentou falar, mas a voz não saiu da garganta. Deu alguns passos e levou a mão à testa, não conseguia pensar direito. Não fazia sentido, nada fazia sentido. Era uma brincadeira de Leopoldo, claro! Só podia ser uma brincadeira... Imagine! Ele jamais poderia ser filho daquele homem. Leopoldo era gentil, generoso e totalmente diferente dele. Mas porque ainda não havia desmentido para darem umas boas risadas?

Ela respirou uma, duas, três vezes e depois se virou para encará-lo. Sentia-se traída:

- Por quê? – perguntou chocada – Porque só agora me diz isso?
- Não pude contar antes... Eu tentei, mas não fui capaz... Estava esperando o momento certo – disse abatido.
- E agora é o momento certo?
- Por causa do que aconteceu a Sara, conclui que não devia mais adiar... Tinha que ser agora ou nunca.
- E o que isso tem a ver com o que aconteceu a Sara? – perguntou intrigada – Está me deixando zonza... Não sei por que, mas acho que devo esperar por coisa ainda pior do que essa...
- Eu vou lhe contar tudo desde o começo e verá como o destino nos preparou uma brincadeira de muito mau gosto.

Leopoldo começou sua narrativa contando como o pai obrigou-o a largar a Universidade de medicina sem mesmo ter terminado o curso e rumar para Redentor das Pedras. Falou dos seus planos sórdidos, das verdadeiras intenções do Coronel ao mandá-lo clinicar no posto de saúde. Contou até mesmo a conversa que havia tido com Tonico, o capataz.
Enquanto falava, Leopoldo via as expressões no rosto de Ingrid passar do espanto à indignação, da fúria ao desalento, da tristeza à compreensão.

Quando finalmente terminou, o sol despontava tímido por traz das colinas; presenteava-os com um esplendoroso espetáculo de todos os gamas de turquesas, lilases e alaranjados.

Ingrid permanecera calada por todo o tempo e agora, olhava fixamente para um ponto distante no horizonte. Essa atitude intrigava Leopoldo; desejava qualquer coisa àquele silêncio.

- Em que está pensando? – arriscou ele – Parece não se importar com nenhuma palavra que eu disse.
- Está enganado. Eu me importo sim – disse ela calmamente –... Só estava aqui pensando. Como é linda a aurora nesse lugar!... Você já viu nascer do sol mais belo do que esse em algum outro lugar do mundo?
- É só isso que tem para me dizer?
- Não. Tem mais uma coisa que gostaria de lhe dizer.
- E o que é?
- Nós formamos uma dupla e tanto!



4 comentários:

  1. Estou aguardando anciosamente o próximo capítulo que história eletrizante... beijos

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  2. CONVITE VIP
    Olá,
    Hoje passo pelo convite, depois para apreciar seu post.
    Passa em meu Blog... dia 01/10... a partir das 10h... e não teremos hora para acabar a festividade...
    Oferecei um coquetel de 7 botões de rosa orvalhada...
    Não falte, vai me fazer MUITO feliz e desejo fazer-lhe também.
    Abraços fraternais

    http://espiritual-idade.blogspot.com/

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  3. Você sabe mesmo fazer um suspense; a gente mal acaba de ler um capítulo, respiração presa e não vê a hora de ler o próximo!
    Bjão,
    Adh

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  4. Estou lendo e adorando... Leio devagar, quando posso.
    Este capitulo mostrou algo que aconteceu comigo e foi muito parecido, pois se eu demorasse mais um pouco para ir ao hospital, ver o que era aquela dor que sentia sem fim, eu poderia ter morrido.
    Lendo me levou para meu passado, rsrs eu tinha 14anos.
    Beijos Bia

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Obrigada pela leitura e pelo comentário.
Digam-me com sinceridade se estão gostando, ou não do romance. Críticas serão sempre muito bem vindas.

A todos dedico o meu carinho!
Bia Franco