quinta-feira

Epílogo

 "É Preciso Ver os Anjos"




10 de janeiro de 1993

Sara apanhou uma revista para folhear, ajudaria a passar o tempo. Uma reportagem intitulada REDENTOR SE REDIME, chamou sua atenção:

“Na conhecida cidade das costuras, Redentor das Pedras, no Paraná,” – dizia a reportagem – “uma misteriosa mulher mandou colocar uma lápide no túmulo de uma antiga moradora com os seguintes dizeres: Aqui descansa em paz uma pioneira. Despediu-se da vida, com a certeza de que o futuro chegaria para todos desta cidade. Futuro esse, que ela plantou com a própria vida. E foi esquecida.
O jornalista Carlos Vidal resolveu investigar os fatos e desvendou, por assim dizer, episódios emocionantes envolvendo a falecida mulher e o passado daquela cidade. Entrevistou antigos moradores, comerciantes, e autoridades locais.  Descobriu que Ingrid Vankovsk, esse era o seu nome, era filha de imigrantes húngaros e viveu ali com a família no tempo das minas de carvão. Foi a responsável, entre outras coisas, pelo pioneirismo dos negócios no ramo da confecção que fez com que a cidade crescesse vertiginosamente nos últimos anos. Atualmente Redentor é a maior exportadora de jeans do país. Ingrid Vankovsk também construiu e inaugurou o primeiro posto de saúde e a primeira escola, onde, mesmo dominando pouco o português, conseguiu alfabetizar todas as crianças e adultos do lugar. Encerrou sua carreira como mártir, por ser assassinada defendendo os posseiros contra o antigo dono daquelas terras que pretendia expulsá-los de lá com suas famílias.
O Prefeito José Cláudio Munhoz disse em entrevista coletiva à emissora de T.V. local, que mandará erguer um busto da heroína no parque turístico, ao lado do rosto de Cristo esculpido na rocha que deu origem ao nome da cidade. 'Ela é a pedra fundamental dessa cidade e nunca será esquecida' – disse ele. Escritores e cineastas se mostraram interessados em sua história de bravura, que poderá ser transformada em livro e filme. A avenida principal que corta a cidade passará a chamar-se Avenida Ingrid Vankovsk, a partir da festa de inauguração que está sendo preparada pela prefeitura.
Como se costuma dizer por aquelas bandas, a justiça pode vir num velho cavalo manco, mas ela chega. Sem falta.”


Sara fechou a revista e pensou: Você tinha razão, mamãe. Sempre valerá à pena.

-  Pode entrar agora, D. Sara – disse a enfermeira – O Dr. Celso telefonou avisando que não pode vir, mas o Dr. Talles vai substituí-lo.

Ela estava diante do médico que acabara de analisar seus exames e agora olhava-a estranhamente.

-  O que há doutor? – perguntou meio aflita – O senhor não tem boas notícias, é isso?
-  D. Sara Vankovsk Romanelli – disse o médico num largo sorriso – A senhora está grávida!


(Aqui se encerra a minha história. Publiquei todos os capítulos tal qual escrevi –  sem revisões –  num caderno no ano de 1993. Somente anos depois é que digitei no computador. Fiz esse blog apenas para compartilhar, e não com a intenção de blogar no formato de retribuir comentários. À todos que leram, comentaram, o meu muito obrigada e um beijo carinhoso! - Bia Franco.)